Os Povos Que Deram Origem aos Portugueses
Os Cempsos foram uma antiga tribo que ocupou o sudoeste da Península Ibérica, numa região que os antigos chamavam de Cinético — correspondente ao atual Algarve.
Integravam o grupo dos cinetes, e foi por essa razão que o escritor latino Avieno viria a nomear o cabo Espichel como "lugum cempsicum", em homenagem a este povo.
Viviam numa zona conhecida como "Cuneum Ager" (“Campo Cónio”), o que sugere que eram uma ramificação dos Cónios, talvez influenciados por culturas lígures ou celtas.
No entanto, essas ligações culturais permanecem envoltas em mistério, já que não há evidências arqueológicas conclusivas que permitam esclarecer a origem exata dos Cempsos.
Curiosamente, o historiador romeno Nicolae Densusianu, na obra "Dacia Pré-histórica", localiza os Cempsos perto da aldeia de Cănicea, na Roménia, onde viviam os coniscos — uma possível conexão surpreendente entre povos distantes.
Há quem acredite que os Cempsos tenham sido os fundadores da cidade de Sesimbra.
4. Lusitanos – Guerreiros da resistência
Os Lusitanos são frequentemente apontados como um dos principais povos ancestrais dos portugueses, especialmente nas regiões centro e sul, bem como dos extremenhos da vizinha Extremadura espanhola. Este povo celtibérico ocupava a parte ocidental da Península Ibérica, inicialmente entre os rios Douro e Tejo — ou entre o Tejo e o Guadiana, conforme diferentes fontes.
Ao norte, faziam fronteira com os Galaicos e Astures, que dominavam a província romana da Galécia e que hoje representam grande parte da população do norte de Portugal.
A sul, confrontavam os Béticos, e a oeste, os Celtiberos da Hispânia Tarraconense.
A figura mais emblemática dos Lusitanos foi Viriato, líder carismático e estratega militar que se destacou na resistência contra o domínio romano.
Embora os limites da antiga Lusitânia não coincidam exatamente com os de Portugal atual, os Lusitanos deixaram uma marca profunda na formação étnica e cultural dos portugueses do centro e sul.
5. Fenícios – Mestres do comércio e da escrita
Originários das costas do atual Líbano e da Síria, os Fenícios eram navegadores exímios e comerciantes incansáveis.
A riqueza piscatória das águas portuguesas atraiu-os para estas paragens, onde se dedicaram à pesca, à salga de peixe e à exploração de metais preciosos como prata, cobre e estanho.
Trouxeram consigo uma variedade de bens luxuosos — tecidos finos, vidro trabalhado, porcelanas, armas e adornos — que trocavam com os povos locais.
Estabeleceram feitorias ao longo da costa, verdadeiros entrepostos comerciais que serviam de base para as suas atividades.
Os Fenícios também deixaram um legado intelectual: criaram o primeiro alfabeto fonético, composto por 22 consoantes, e usavam papiro para escrever.
Infelizmente, os vestígios materiais da sua presença são escassos.
Um dos poucos exemplos é o subsolo do claustro da Sé de Lisboa, onde se encontram traços da sua passagem.
6. Gregos – Navegadores e introdutores da moeda
Após os Fenícios, os Gregos chegaram à Península Ibérica como concorrentes comerciais e fundaram várias colónias, entre elas Alcácer do Sal.
Trouxeram consigo a sofisticação da civilização helénica, que se espalhou pelo sul e leste da Península. Entre os vestígios da sua presença destacam-se ânforas — recipientes usados para armazenar alimentos —, vasos decorativos e moedas.
Embora envoltas em lenda, há quem diga que Ulisses fundou Lisboa e que seu filho, Abidis, teria fundado Santarém.
Mais do que mitos, essas histórias revelam o fascínio duradouro pela influência grega.
A maior herança cultural deixada pelos Gregos foi a introdução da moeda.
Começou a ser cunhada localmente em Emporion no século V a.C., e em Rodes no século seguinte.
Esta prática só se generalizou mais tarde, sob a influência cartaginesa.
7. Cartagineses – Comerciantes e exploradores audazes
Descendentes dos Fenícios, os Cartagineses mantiveram viva a tradição marítima e comercial. Dedicavam-se à troca de metais e à salga de peixe, e acredita-se que fundaram Portimão e outras colónias piscatórias ao longo da costa algarvia.
Mas não eram apenas comerciantes — eram também exploradores destemidos. Entre 500 a.C. e 420 a.C., o almirante Hanão liderou uma expedição ao longo da costa africana, com o objetivo de estabelecer novas rotas comerciais e fundar colónias.
Segundo relatos, teria passado pelo estreito de Gibraltar com sessenta navios de cinquenta remos cada, navegando até à Serra Leoa e ao Golfo da Guiné.
Embora não haja provas de comércio regular além de Marrocos, a viagem é descrita com detalhes impressionantes.
Hanão teria fundado cidades como Mogador e Agadir, erguido templos e, ao encontrar tribos locais, acreditado estar diante dos “inóspitos etíopes”.
8. Celtiberos – Guerreiros da fusão cultural
Os Celtiberos são considerados por muitos estudiosos como o resultado da fusão entre os povos celtas e os iberos, nativos da Península Ibérica.
Estabeleceram-se nas regiões montanhosas onde nascem os rios Douro, Tejo e Guadiana, por volta do século VI a.C.
Há divergências quanto à sua origem: alguns defendem que eram celtas que adotaram costumes ibéricos; outros acreditam numa verdadeira miscigenação cultural. Organizados em "gens" — clãs familiares que formavam federações tribais —, os Celtiberos eram conhecidos pela sua bravura e resistência.
Essa estrutura social e espírito combativo permitiram-lhes enfrentar os romanos com tenacidade, até à queda de Numância em 133 a.C.
Dos Celtiberos emergiram os Lusitanos, que mais tarde seriam integrados no Império Romano e são vistos como antepassados diretos dos portugueses.
9. Suevos – Agricultores, conquistadores e cristãos
Os Suevos chegaram como guerreiros e agricultores, mas rapidamente se tornaram conquistadores, expandindo o seu domínio até ao rio Tejo. Influenciados por São Martinho de Dume, converteram-se ao cristianismo e fundaram o Reino Suevo, com capital em Braga — que se tornou um centro de fé e cultura.
Com a expansão para sul, instalaram-se em Portucale, na foz do Douro.
Segundo o historiador Dan Stanislawski, o norte de Portugal ainda carrega traços suevos: a predominância de pequenas propriedades agrícolas, o uso do arado quadrado e a presença de espigueiros são marcas deixadas por este povo.
Na toponímia, nomes como Freamunde e Guilhofrei revelam raízes germânicas.
10. Visigodos – Legisladores e mestres da ourivesaria
Os Visigodos chegaram à Península em 416 e rapidamente estabeleceram um reino, subjugando os Suevos.
Com capital em Toledo, organizaram uma monarquia absoluta e estruturaram a sociedade em três classes: clero, nobreza e povo.
Publicaram o Código Visigótico, que regulava a vida civil e religiosa, e destacaram-se nas artes, especialmente na joalharia.
Embora poucos vestígios da sua arte tenham sobrevivido, ainda é possível admirar exemplos na ourivesaria e arquitetura portuguesa.
No campo da arquitetura, os Visigodos deixaram marcas visíveis em edifícios emblemáticos como a Capela de São Frutuoso de Montélios, nos arredores de Braga, a Igreja de São Pedro de Balsemão, perto de Lamego, e a Igreja de São Gião, na Nazaré.
Elementos típicos da estética visigótica incluem o arco em ferradura e a planta em cruz, características que ainda hoje se podem observar nestas construções.
Mas o contributo visigodo não se limitou à pedra e à arte sacra.
No domínio jurídico, foram pioneiros: redigiram o "Liber Judiciorum", um compêndio legislativo que viria a influenciar profundamente o pensamento jurídico medieval na Península Ibérica.
Também se destacam o "Código de Eurico" e a "Lex Romana Visigothorum", que consolidaram práticas legais e administrativas que perduraram por séculos.
11. Romanos – Os grandes construtores da civilização
Entre todos os povos que passaram por Portugal, os Romanos foram, sem dúvida, os que mais deixaram marcas duradouras.
Legaram-nos a língua latina, o sistema de numeração romana, e uma impressionante rede de infraestruturas: pontes, estradas, aquedutos e cidades.
Um dos exemplos mais notáveis é Conímbriga, perto de Condeixa, onde as ruínas da antiga cidade romana continuam a fascinar visitantes e estudiosos.
A famosa calçada portuguesa tem raízes romanas, tal como o apreço por produtos como o vinho, o pão e o azeite — elementos centrais na dieta mediterrânica.
No campo jurídico, a influência romana ainda se faz sentir nas bases do direito ocidental moderno.
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