O Estranho Caso do “Angoche”

17 horas de sexta-feira, dia 23 de Abril de 1971.O navio costeiro ”Angoche” sai do Porto de Nacala, rumo ao Porto Amélia, em Moçambique. Uma viagem de 97 milhas, como tantas outras. Saíra da Beira no dia 20.A rotina…operações de carga e descarga, viagem de Porto a Porto, sempre junto á Costa.

A tripulação era composta por 23 homens, sendo 10 Europeus e 13 Africanos. O Comandante capitaneava há já 3 anos aquele navio e há 16 que fazia a vida no mar, pelo que conhecia bem a Costa Moçambicana. A única alteração nesta viagem é que o radiotelegrafista, que normalmente fazia parte da tripulação do “Angoche”,fora substituído por outro, além de que levava um passageiro a bordo.
A noite caíra, entretanto, sobre o azul do oceano. Distinguia-se aqui e além ,uma ou outra luz na costa. Tudo parecia correr normalmente…Mas algo terrível iria acontecer.
No dia 26 de Abril é encontrado á deriva(e abandonado),pelo petroleiro “Esso Port Dickson”,a 15 milhas da Costa de Moçambique, sensivelmente na direção da Vila António Enes ,um pequeno navio de carga; é o “Angoche”!!!
Como um rastilho de pólvora a noticia depressa se propaga. O Caso provoca grande perplexidade entre a população e os Técnicos Marotímos que não sabem explicar o sucedido. Causa espanto o facto do “Angoche” não ter lançado nenhum SOS.
O rádio do Farol do Porto da Beira tenta entrar em contacto com o petroleiro que reboca o navio para Durban, para avisar que o “Angoche” transporta material explosivo, mas o Esso não responde, estando as autoridades Portuguesas convencidas de que escuta o aviso. Também a Marinha de Guerra procura contactar o “Esso”.
Tais factos reforçam a convicção que o petroleiro pretende receber a indemnização pelo navio abandonado.
Outro ponto provoca a perplexidade; o “Angoche”,que rumava para Porto Amélia e para Mocímboa da Praia, é encontrado pelo petroleiro algures ao largo de Mojincal. Ora, acontece que Mojincual se situa ao Sul de Nacala, ao passo que ambos os referidos Portos de destino do Costeiro se localizam para Norte.
É imediatamente lançada uma das mais gigantescas operações de buscas dos tripulantes desaparecidos; Marinha e Força Aérea, civis e militares, Portugueses e Rodesianos. Nada foi encontrado!!!
Visto do ar o “Angoche” parece ter sido vitima de um incêndio. As duas grandes baleeiras de bordo não foram lançadas á água, estando uma intacta e a outra quase totalmente queimada. E contudo, a bordo, não havia ninguém vivo ou morto…Um completo navio fantasma…!!!
Perguntas angustiosas se formavam nas bocas das pessoas; ”Onde estão os tripulantes???Que lhes sucedeu???”
A 8 de Maio, em círculos ligados ás autoridades navais de Moçambique, afirma-se a possibilidade de que sejam elementos hostis de Países próximos, os responsáveis pelo incidente com o cargueiro. Segundo os mesmos círculos, a tripulação fora raptada como refém e sendo possível que alguns tripulantes estivessem implicados na conjura e tivessem mantido em respeito, com ameaça de armas, o resto da tripulação, quando os assaltantes apareceram a abordar o “Angoche”.Esses círculos afirmam ainda, o convencimento de que o plano dos assaltantes era afundar o navio Português, sem que dele houvesse rasto.
Havia a impressão de que a tripulação se encontrava viva, embora o seu paradeiro continuasse desconhecido.
Em 21 de Dezembro de 1977 é publicado o relatório oficial do caso. A comissão não considera provado que todos ou sequer parte da tripulação tivesse morrido. Muitas são as hipóteses possíveis…mas com segurança, só se pode afirmar;

1-Que o navio levava 23 tripulantes e 1 passageiro quando zarpou de Nacala, pelas 17 horas de 23 de Abril de 1971.

2-Que da carga fazia parte material de guerra, designadamente espingardas e bombas de avião, que tinha sido embarcado em Nacala.

3-Que se deu nele o rebentamento de uma carga explosiva, colocada á ré, do lado direito da chaminé, a qe se seguiu um incêndio.

4-Que o navio foi encontrado na manhã do dia 26 seguinte, sem ninguém a bordo.

5-Que nada se sabe acerca da autoria nem dos motivos da colocação da carga explosiva.

Em 21 de Março de 1978 é divulgada a posição dos familiares dos tripulantes. Segundo eles, o “Angoche” foi abalroado e abordado por pessoas vindas de outro navio, retirada a sua tripulação, desviada a rota e só posteriormente acionado o rebentamento da bomba.
Eu, pessoalmente, concordo com esta hipótese, já que o navio levava carga preciosa para grupos guerrilheiros da zona; o desvio do navio poderia muito bem ser para desviar a atenção da zona do ataque(ou de pessoas)e também para a tentativa falhada de afundar o navio em mar alto, através da bomba que originou o incêndio…Este caso faz-me relacionar com os imensos casos de ataques a navios da zona da Somália, em que os nossos Valorosos Marinheiros se viram na dianteira da defesa Internacional Contra esses Piratas…!!!
Mas este caso continua ainda na bruma de mistério, como tantos outros casos, da História Universal…

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