Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha

Isabel de Portugal (Évora, 21 de Fevereiro de 1397 — Dijon, 17 de Dezembro de 1471) foi uma princesa Portuguesa da dinastia de Avis, única filha do rei João I de Portugal e de sua mulher Filipa de Lencastre. Era irmã, entre outros, do Infante D. Henrique (mais conhecido, internacionalmente, como Henrique, o Navegador), de Pedro, Duque de Coimbra, e de D. Duarte, rei de Portugal, sucessor de João I.

Isabel nasceu em Évora e passou a sua juventude na corte em Lisboa.

Muitos príncipes da Europa a pretenderam para esposa, mas D. Isabel veio a casar-se com o duque de Borgonha e conde de Flandres, Filipe IlI, o Bom, que já enviuvara por duas vezes, um dos mais poderosos soberanos da Europa, corajoso guerreiro, que conquistou e uniu aos seus estados; a Holanda e a Zelândia. 

O dote da infanta era de 150:000 cruzados (60:000:000 réis), quantia importantíssima naquele tempo. D. Filipe III mandou buscá-la a Lisboa com uma esquadra de trinta e nove vasos de guerra, em que vinham os sires de Roubaix, de Toulongen, de Noyelle e outros fidalgos borgonheses. 

Com uma feliz viagem chegou a esquadra a Bruges, onde o duque a esperava, e a recebeu, com as maiores demonstrações de amor e regozijo. O casamento realizou-se em 10 de Janeiro de 1429, segundo diz o padre Francisco de Santa Maria, no primeiro volume do Ano histórico, pág. 70, e em Janeiro de 1430; segundo outros escritores. 

As festas foram sumptuosas, como nunca se havia visto naquele país. Para maior pompa e em honra de sua esposa, o duque de Borgonha instituiu a nobilíssima ordem do Tosão de Ouro, que só se confere a soberanos e a pessoas da mais alta nobreza. Na sua instituição tinha esta ordem trinta e nove cavaleiros, que era o número de navios de que se compunha a esquadra que viera buscar a nova duquesa. 

A ordem milita debaixo do patrocínio e tutela de Nossa Senhora e do apóstolo Santo André; a sua insígnia é um cordeiro de ouro, pendente no peito de um colar, formado de fuzis também de ouro, a que os escritores dão varias significações. 

Professaram esta ordem, depois que os estados de Filipe se uniram aos da casa de Áustria, todos os imperadores da Alemanha, e todos os reis de Castela, conservando-se nestes últimos a dignidade de grão-mestre. 

Professaram também na mesma ordem, em diversos tempos, vários reis de Portugal, de França, de Inglaterra, da Escócia, da Hungria, de Nápoles, da Polónia, da Dinamarca, e quase todos os potentados da Alemanha, e outros muitos senhores da Europa. 

Isabel era uma mulher muito refinada e inteligente, que gostava de se rodear de artistas e poetas, e foi uma mecenas das artes. Também na política exerceu a sua influência sobre o filho e, em especial, sobre o marido, que representou em várias missões diplomáticas.

Formosa, enérgica e prudente, D. Isabel mostrou-se digna pelas suas virtudes e elevada inteligência, de partilhar o destino do duque de Borgonha, e quando em 1434 o duque foi à Flandres, ficou a duquesa regendo os seus Estados. 

Desempenhou-se superiormente deste espinhoso cargo em circunstâncias difíceis, e desde então tomou parte importantíssima nas negociações diplomáticas com a França, Inglaterra, e outras potências. Assistiu ao congresso de Arras em 1486, promoveu em 1439 a conclusão de um tratado de comércio entre a Inglaterra e a Borgonha. 

Obteve a liberdade do duque de Orleães, que ficara prisioneiro dos ingleses na batalha de Azincourt em 1415, etc. 

A vida da duquesa D. Isabel foi uma sequência de ações nobres, virtuosas e cavalheirescas. 

Em 1453, sabendo que a cidade de Constantinopla era tomada pelos turcos, escreveu com o seu próprio punho a todos os príncipes cristãos, animando-os a recuperá-la, e oferecendo-se com todos os seus vassalos para companheira dos trabalhos e da conquista. 

Carlos VII, de França, reclamava que os Estados de Borgonha eram seus feudatários, e lhe deviam pagar tributo, vindo os seus duques assistir aos parlamentos. O duque defendia a sua soberania, não querendo reconhecer-se suserano de França. 

Para impedir um rompimento que seria fatal aos dois Estados, a duquesa dirigiu-se a Paris, e com eloquentes palavras persuadiu o rei Carlos VI, que o pleito se decidisse pelo duelo de dois cavaleiros. O rei aceitou, nomeando o mais destro e esforçado cavaleiro francês que tinha na sua corte, e a duquesa de Borgonha escolheu para defensor Álvaro Gonçalves Coutinho, o Magriço, que voltava triunfante com os seus onze cavaleiros, dos célebres duelos de Londres. 

Chegou o dia do duelo, a que assistiu toda a corte de França, a duquesa, os respetivos juízes e muita nobreza e povo. No primeiro ímpeto, partiram os contendores as lanças, e puxando das espadas, Magriço cortou a cabeça ao seu adversário, vencendo assim o pleito, de que era esforçado campeador. (V. Magriço). Em 1457 deixou a corte, e foi habitar no castelo de Nieppe, ao pé de Hazebrouck. 

D. Isabel distinguiu-se também pela sua caridade e pelos cuidados com que tratava os pobres e os doentes Conservou sempre uma grande afeição pelos Estados de que era soberana e o maior interesse pelos destinos do seu país natal. 

Foi por sua intervenção que passaram a Portugal, e obtiveram concessões de terras nos Açores, os flamengos que colonizaram aquelas ilhas. A duquesa teve três filhos: António e José (que faleceram durante a infância) e Carlos, o Temerário (nascido a 10 de Novembro de 1433). Carlos, o Temerário, que sucedeu a seu pai, e foi o ultimo duque de Borgonha. Sobreviveu três anos a seu marido, e faleceu com setenta e quatro anos, sendo sepultada no convento da cartuxa, de Dijon, na Borgonha, em 1471.

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